28 de dezembro de 2013

Uma Dose Por Vontade (Natal 2013)



Estrelas em um céu de natal, aquele galpão no Portinari, de idas e vindas, a volta de um ano passado, em um espaço curto de tempo, uma rua sem saída, represando sentimentos bons, nas imediações: barulho de pedras de dominó e sarro, sem o tilintar de taças. Meu tornozelo doendo de tanto chutar aquela bola, eu rindo sincero e contagiante, uma família além do sangue, dividindo os pratos na fila diante da churrasqueira, eu me pego num campo improvisado no asfalto, arrodeado de crianças e adolescentes, jovens, adultos infantis como eu gosto de ser, engenhosos em suas brincadeiras, suas travessuras inconsequentes. Uns correm fingindo ter medo de serem atingidos ao ascender o buscapé, outros voltam na fuga do estrondo da pólvora. Eis que veio o momento, ninguém o viu aparecendo por de trás do banco do carro, o esconderijo desembrulhado, e a garrafa da sorte, whisky com energético, servi minha dose e cedi para um garotinho insistente, sua mãe é minha amiga mas disso ela nunca vai saber. Num instante, uma curiosidade exterminada, um pequeno sonho realizado, o fim da sede. Não fiz para transgredir ou dar mal exemplo, nem como uma vingança a alguém ou por algo, foi conscientemente como o pagamento de um pedido que não me concederam, como se eu transferisse uma vontade antiga e a concedesse. Dali por diante fiquei de olho em seus passos... tudo por um sorriso de criança.

14 de dezembro de 2013

O Fim da Sexta-Feira 13




Na sexta-feira a noite é acentuada a sensação de liberdade. Conhecíamos aquele significado. Eu e uns amigos desfrutávamos descontraídos a pé, pra cima e pra baixo, da magia das companhias orquestradas por conversas hilárias. 
Eu nunca percebia quando passava da meia noite. Inconscientemente de rolê nas primeiras horas de sábado, eu ainda considerava como sexta. Eu, na verdade, a prolongava até chegar em casa. O limite da sexta para o sábado era sempre compreendido por ocasião do entusiasmo, já em casa, ao me deitar para repousar, pouco antes de adormecer com a cabeça no travesseiro.
Em noites assim, especiais, me desvencilhava de grupos alternadamente. Embaixo de um refletor de luz danificado, que emitia um som semelhante a de uma colmeia de abelhas, é que fui me dar conta de que estava retornando para o lar. 
Suaves contatos de borracha no asfalto transmitiam o espírito: Eram meus passos. O itinerário é rua Santa Cruz. O nome me agradava, como se me inspirasse misericórdia. Do outro lado da pista, dois rapazes, reconheci um deles - um era amigo de um amigo. Os dois me fitaram, e então eu gesticulei. De polegar no ar, cumprimentei-os - E ai?
Os dois se inclinaram para trás atônitos. Com isso eu quase me assustei também. Aquele que pra mim era um desconhecido, se infiltrou nas sombras do beco, cambaleando como se mancasse, de costas, de lado e sumiu. Continuei andando e raciocinando. Será que eles entenderam mal? Pela curta distância e luz privilegiada, não poderiam pensar que eu sacava e apontava uma pistola em vossa direção. Não poderiam. De repente, um baque surdo em um escadão do meu lado da pista. Girei lentamente a cabeça, avistei uma aglomeração mas perdi o ângulo porque continuei caminhando. Será uma Briga? Alguém caiu? Eu não queria mais respostas. Automaticamente relacionei aquilo com uma explicação a reação dos dois rapazes. E já que não era comigo, procurei não me envolver, e qualquer curiosidade inútil, eu deixaria para suprir alguns dias depois. Notícias assim eram difundidas como uma epidemia pelos moradores.
O mistério quebrou o clima, apertei o passo, quebrei para a direita, como de costume. Subi o morro no limite de Diadema com São Bernardo, bairro Paulicéia.
A minha direita saindo de uma viela, um sujeito estranho, naipe de usuário pesado. Se dirigia no mesmo rumo que eu, só que do outro lado da rua. Na medida em que a ladeira foi se acentuando, o nosso ritmo foi diminuindo. Nesse momento, percebi que eu estava apertado, busquei um ponto isolado para me aliviar, imaginando a minha bexiga estourar. Visualizei ela de cor amarela - dei um riso interno -, como essas penduradas em ambientes de festas.
Teria atravessado a rua para urinar, atrás de um ônibus, se não fosse por esse rapaz que não me inspirava confiança, ao contrário, me parecia um desses ladrõezinhos de pequenos pertences, que costumam converter, num trapaceiro passe de mágica, qualquer desses objetos em entorpecentes, rumo a uma lividez cadavérica. Com isso, me preveni e adiei. - Mas pra frente, pensei.
Nessa hora, escutei barulhos de pneus cortando o asfalto. Pensei, sem saber o porquê, que vinham na seca atrás de mim. Não olhei para trás, queria misticamente, por fim na sexta-feira. Buscava descansar.
O veículo se aproximava, de motor macio, subindo o morro, logo atrás de mim. Encostaram do meu lado, antes de fitá-los de soslaio, pensei em algo ainda pior que alguns policiais corruptos de Diadema. Mas, pra minha surpresa, escutei:
- Mãos pra cima, encosta aí - disse alguém.
Virei, olhei e os reconheci. Obedeci os PMs. Baixo nível de preocupação. Do outro lado da rua, o estranho de mãos pro ar, agora, de semblante preocupado, escutou a segunda ordem: 
- Você, junto do outro ali - apontando pra mim, o portador da bôina cinza em vestes de Kevlar, com a mão no cabo da arma acomodada no coldre, em sua cintura.
Dali por diante, de costas para o procedimento padrão: Revista, questionário idiota e olhares desconfiados. 
Na retaguarda, um outro deles se aproximou de mim.
- Já te revistaram?
- Hoje? - fui ácido, sem temer algo.
- Agora. 
- Sim, senhor - respondi intrigado. Afinal, o que ele fazia enquanto o outro me revistava? Pensei.
Depois inquiriu ao estranho ao meu lado: 
- E essa tatuagem?
Olhei para onde o policial apontava: Na pantorrilha direita do abordado. Não pude entender o desenho da figura. pareciam dois revólveres cruzados, calibre 38, tinta preta, contornados sem pintura.
- É um palhaço senhor - respondeu ele.
Desviei o olhar meio cabreiro. Pois, não era nada parecido com que eu havia visto. Em seguida apresentamos o R.G. para averiguação e aguardamos.
Sem nenhum problema à constar nos computadores, fomos rapidamente liberados, de volta ao percurso, ao nos distanciarmos uns 15 metros do ponto do enquadro o sujeito virou para a rua que cruzava à direita, direção leste, saindo do ângulo dos policiais. Nesse momento, vinha um carro em sentido contrário - um Volkswagen Gol -, cheio de indivíduos, e o sujeito que acabara de ser revistado junto a mim, gesticulou para o motorista: Esfregando os dedos na blusa com a mão semi-fechada, anunciando em linguagem corporal de rua, que a área estava suja. Já o motorista não foi esperto à altura e repetiu a mensagem em voz alta aos companheiros no interior do veículo:
- O "baguio môio" - basicamente o mesmo que captou do estranho (que para ele parecia um conhecido).
De cabeça erguida, subindo a ladeira em direção norte, para o meu destino, não precisei olhar para trás para enxergar a cena. Pelos ruídos, os policiais correram para dentro da Chevrolet Blazer, portas se bateram, mas uma derrapada irritante, e cavalo de pau na fuga atrás dos elementos do Gol. Com um frio na espinha, apressado por maus pressentimentos, consultei o relógio no pulso: 23 horas, 37 minutos e 10 segundos... O que? Percebi que os segundos estavam parados. - Droga meu relógio parou - resmunguei na surdina. Tinha uma noção básica do tempo que levaria para chegar em casa. Algo em torno de 25 minutos, andando rápido. Não pude me conter, de relance, por acaso, quando olhei para os ponteiros, havia também consultado o calendário: 13 de março de 2010. Ali, naquele momento, só queria encostar a cabeça no travesseiro, acabar com aquele clima estranho. Por temer o desfecho natural de uma sexta feira 13, considerei que já fosse sábado.

13 de dezembro de 2013

Na Retina do Outro




Uma opinião: Faceta é uma adaptação do comportamento em conciliação, o lado impessoal, a versão mais diferente de você mesmo. Alguém aí já tentou? Isso pode ser arriscado, mas hoje ela está magnífica: Vocês sabem, consciente ou inconscientemente, que a beleza, mais do que um padrão, é uma combinação do jeito pessoal com a forma física. Seu palco hoje é numa véspera de festa natalina, quando ela chegou seus passos combinavam com o salto, estava irreconhecível, é mesmo a outra personalidade dela, jogávamos dominó e ela se sentou, prostrou seu ar lascivo, suas pernas se cruzaram declamando: "Quero um namorado". Todos a fitaram. Essa definitivamente é a sua noite - pensei. Eu desisti de embaralhar as pedras emborcadas de cor de leite, preferi um comentário sobre um lance do jogo, um parceiro embaralhou risonho por termos vencido o jogo de uma maneira humilhante, enquanto eu aprovava secretamente a ousadia dela, a sua investida em um lado avesso de seu próprio aspecto, tão intensa, nítida e profundamente original, como ela mesma pôde reconhecer, instantes depois, na retina do seu pretendente. 
Outra opinião: Eu só preciso saber como eu começo nossa conversa. 

28 de outubro de 2013

Dando Vida ao Imortal (Ayrton Senna)


F1 - GP da Europa 1993 (Rap Beat) pt. 1 por the-last-phoenix

Eu tenho dois motivos para lhes contar uma das melhores passagens de Senna pela McLaren. Sabemos que esses episódios fantásticos, naturalmente tem uma tendência forte de se proliferar entre as massas, em um nível mundial é claro, por isso, a importância de ser documentado é igualmente enorme. O 1° motivo pra eu querer passar essa "pra frente", é que essas façanhas precisam ser revistas pelos amantes do automobilismo mundial, tendo lugar no coração de qualquer terráqueo, até mesmo para um Argentino - Juan Manuel Fangio admite a superioridade de Senna. O 2° motivo é que há telespectadores que até gostam desse esporte, mas não fazem parte dessa geração bem aventurada, e podem não ter tido a oportunidade de ter acompanhado estas cenas, em algum eventual programa do gênero. Será preciso viajar para o ambiente astral daquela época, e considerar algumas informações externas de campo, e assim, se tem a dimensão completa da proeza realizada pelo piloto brasileiro, naquele dia: É domingo no autódromo de Donington Park, pista do grande prêmio da Europa, na Inglaterra, o dia variava entre garoa, chuva e estiagem, chegando até a causar um mormaço. Ayrton Senna, amante da verdade, se sentia prejudicado por Allain Prost - então piloto da Willians -, o covarde havia "inventado" uma cláusula que impossibilitava o brasileiro de trabalhar na mesma equipe que ele, obviamente com medo de ser ofuscado. Senna, quando trabalhou junto com ele - Prost ainda na McLaren - foi muito melhor. Daí percebemos que há uma carga emocional negativa no campeonato, é claro que Senna, piloto maduro, tiraria de letra, mas esse agravante deve ser lembrado, para denotar a inteligência emocional dele. Um ano atrás, essa mesma Willians dominou o campeonato, com sua brilhante fase de componentes eletrônicos, e Senna - já tri-campeão mundial -, fez alguns milagres com a McLaren, conseguiu ganhar três corridas, mas amargurou o 4° lugar no campeonato. Para piorar no final dessa temporada de 1992, a Honda, que fornecia os motores para a McLaren, se desligou da Fórmula 1, e como a Benetton - era detentora dos motores da Ford 1° linha, só sobrou os motores 2° linha da Ford para a equipe de Senna. Então, novamente as Williams imbatíveis, com suspensão inteligente e controle de tração (FW15c) agora com Prost e Damon Hill, dominavam em equilíbrio e com o potente Motor Renault V10. Cada equipe tem 2 carros, certo? A Benetton com Schumacher e Patrese representavam mais dois lugares, e ainda havia as Ferraris com motor também melhores. Naquela temporada, seria péssimo para os piloto da McLaren, única equipe disponível para atuação de Senna. Então, havia 6 carros mais competitivos que os de Senna, problemático para um piloto no auge de suas habilidades. De volta para o presente - da época -, uma nuvem pairava sobre aquela pista encharcada, no momento, parecia trazer também o clima entre a federação e os críticos da imprensa, que concluíram que a escolha desse circuito era errônea. Os patetas disseram que a pista "não tinha nenhum ponto de ultrapassagem". Certo, por isso que eu digo: "quem disse, seus comédias?", na largada, antes de completar a primeira volta, Senna que havia largado em 4°, e perdeu uma posição, fechado na primeira curva por Schumacher, se recupera brilhantemente na sequência e recupera a posição já na primeira curva, depois ultrapassa Karl Wendlinger, Damon Hill e Prost, liderando rapidamente o circuito. 
Desde o seu começo na fórmula 1, Senna já demonstrava genialidade nas pistas molhadas, e é claro, que se a pista estivesse seca, com aquele carro decadente, sem uma eventual falha dos "mais fortes", as chance seriam bem menores. Senna se distanciou bastante no começo da corrida, adquiriu muita vantagem, você vê nitidamente ele voando nas curvas ensopadas de Donington, com perícia, sem medo e muita agressividade. Dá pra perceber seu esforço para manter o carro na pista, quase rodando várias vezes. "Segura, Senna" diz Galvão. Senna apavorou, chegou a fazer uma volta no rival Prost, e venceu com extrema vantagem. Essa entrou para o Hall da Fama de melhor 1° volta da história da F1. Nesse ano, Senna ganhou incríveis 5 corridas, e se não fosse retido de outras 4 disputas por problemas mecânicos talvez levaria o caneco. Por essa atuação, foi construída, uma estátua de Ayrton Senna na entrada do autódromo, dando vida ao imortal. Parece que foi ontem, com essas recordações, é obvio que outros fatos da época vem à tona, como qualquer outra lembrança. Isso multiplica os motivos para lhes contar... eu achava que só tinha dois.

26 de outubro de 2013

O Mito Também Fala (Rogério Ceni)


As opiniões de Ceni deixam os "rivais" mordidos, mas analisemos, se ele tem crédito, fica para a diretoria qualquer responsabilidade no caso dele atingir alguém, e se os mesmos acharem que ele não deve se intrometer em determinados assuntos, eles que tratem de freá-lo. Não é natural que todos conversem dentro do time? Daí o problema será só não respeitarem a influência que ele tem no S. P. Futebol Clube. Uma opinião dele vale escalação, contratação, e se tem alguém errado (se é que tem) são os cartolas que não definem hierarquia ou tratam as opiniões do goleiro artilheiro como fortes e plausíveis demais.

15 de outubro de 2013

Beleza do Paraguai



A Larissa Riquelme pensa que é como as brasileiras, meu Deus! Pode vir aqui, se exibir, desfilar novamente suas curvas na escola de samba de Nilópolis, nós sabemos que você é gostosa. Pode falar também que os caras te oferecem dinheiro por sexo - sobre Messi - e investir nos seus 15 minutos de fama, mas humildade é bom também né? Ta pensando que tá no nível das nativas? É claro que ainda preferimos ver você por aqui, quase nua, toda 'soltinha', ávida por clicadas e reconhecimento. Para mim, quanto mais mulher melhor. Aproveite a copa, Larissa, só que não força a barra, por que se for te comparar com as deusas daqui seu corpo é um plágio, um objeto chinês obtido no Paraguai. E não espere uma menção favorável antes de se deitar com qualquer cara, eu pelo menos não faria isso, é típico na postura do 'quem pega mais', e seria como pisar na bola, coisa que não costumamos fazer nos campos daqui. Eu não faria tantos elogios depois de pegar uma dessa não! E pouco tempo depois, até me esqueceria do episódio em que a notamos, pela primeira vez como celebridade mundial, com um celular entre os seios, naquela copa barulhenta na África do Sul.

12 de outubro de 2013

Bolhas de Sabão




Diante da tela do computador, na casa de um amigo - ausente -, sua filha pequena me convidou pra brincar.
- Ei me ensina a fazer bolhas?- me perguntou sorrindo.
Trazia na mão um kit projetado: Um copinho com uma "fórmula-mágica" e uma espécie de canudo envolvido em um anel na ponta.
- É fácil, me empresta aqui - respondi.
Soprei suavemente enquanto reconhecia o que fazia. As bolhas flutuavam ostentando a beleza das cores.
Ela sorriu novamente, e com ímpeto inocente, me tomou o seu brinquedo. 
- Olha, deixa eu tentar?
Por vários modos ela tentou, mas sem sucesso, frustrou-se. Eu, calmamente, expliquei que era preciso se soprar como quando buscamos aliviar a dor de um "dodói".
Ela seguiu num costume infantil com seu hábito insistente de tentar aprender, por minutos, e se exaustou, me contagiou e eu voltei a atenção para o conteúdo da internet.
- Continue tentando... suavemente - continuei.
De olho na tela do CPU, procurava no Google algum resultado sobre a filmografia de Quentin Tarantino. Logo, fui surpreendido por uma bolha que voava em frente ao monitor e, na sequência, assaltado por lembranças bem distantes:
De volta para o passado, em uma época de "dejavús" intensos, no apogeu da extrema curiosidade, habitado na infância, revivi sobre a laje de uma antiga moradia, bastante perplexo: Abaixo de uma nuvem de bolhas, avistei um tipo de ilusionista, rodeado por várias crianças. Um ser "sem face", roupas humildes, munido de material amador, porém, um desempenho profissional na produção de bolhas de sabão. Eram dezenas por segundo e o vento tratava de espalhá-las pela viela abaixo. As crianças o fitavam boquiabertas. O grupo aumentava a cada minuto. Todas elas abandonavam o que faziam, deixando para trás a velha pelota, as bolinhas de gude, a peteca, e o jogo de taco. Logo, algumas começaram a perseguir as bolhas maiores e estourar com as mãos, numa leve disputa. 
Minutos depois, o dono do show se despediu, com um ar meio altivo, subiu a viela, imediatamente senti saudade da brincadeira.
Voltei correndo para o andar térreo de casa , desci a escada giratória para o quintal, nos fundos. Fui logo contar o que acabara de ver para a minha mãe, que esfregava algumas roupas, cantarolante, e me peguei bastante emocionado, ao mesmo tempo em que puxava insistentemente a barra da saia dela, que parecia gostar muito daquele tanque.
- Mãe, eu vi um homem fazer bolhas, como na televisão, sabe fazer? Me ensina? Vai?- disparei ávido.
- Tá bom vá até a cozinha e me traga um copo.
Quando retornei correndo, ela já havia improvisado um canudo, quebrando um pedaço de antena velha. Depois completou o kit pegando do próprio balde de roupas a até então desconhecida fórmula: Água com sabão. 
Ela se postou na minha frente.
- Observe - soprou e fez várias bolhas. Quase ri. Ao observá-la, pensei que fosse fácil, ao tentar, além de soprar forte, de início, virei a ponta do canudo pra cima e virei o líquido pra dentro da boca, sem que quisesse: Engoli sabão. Fiz uma careta. 
Ela riu: 
- Molhe o canudo e, ao encostar na boca, não erga a ponta. Sopre de leve. 
Depois de alguns erros cômicos, com paciência, aprendi a dar vida à coloridas bolhas, e me gabava por isso. Com a prática, enchi o quintal de bolhas e gritei pela atenção da minha mãe que já tinha se voltado aos seus afazeres. Ela se virou para mim novamente, com um pregador entre os dentes e me cumprimentou com um gesto facial familiar.
Aquele episódio sumiu de repente, explodindo na lente frágil daquela bolha, de frente da tela do computador. Quando me virei à procura da menininha novamente, percebi que estava irritada, talvez porque não lhe dei a atenção devida, não pude escutá-la, estava bem distraído. 
- O que foi? - busquei a verdade.
- Faz outra bolha, não consigo mais - ela me disse alterada.
Tive de acalmá-la, e expliquei mais uma vez a teoria da brincadeira para aquela que me imitava inconscientemente quando criança.
Minutos depois, buscando matérias na internet, cercado por inúmeras bolhas - que a menininha havia feito -, me distraí novamente: Estava à procura, juntava fragmentos, peças para um quebra-cabeça, perdido no campo da memória, em busca da identidade do senhor "sem-face". É do que realmente gostaria de me lembrar, não do gosto amargo no paladar, manifestado desde o primeiro momento em que o espetáculo da minha "cena cômica" brilhou.

8 de outubro de 2013

F1 - O Combate do Gigante Por Uma Modesta Posição.







Na minha casa só eu assisto F1, não é possível compartilhar no meu lar nenhum assunto sobre os pilotos da melhor competição de carros do planeta, meu irmão sente ânsia só de ver (aproveita o assunto para me mostrar o quanto ele é um cara irônico), minha mãe por vezes não diz nada, mas pelo jeito, imagino que ela considere um esporte pedante. Nas madrugadas de transmissão de GP eu me sinto à pisar na lua, isso é muito legal, eu reconheço. Eu não tenho manias estapafúrdias de torcer para o azarão das pistas, prefiro ver o atual campeão ser vítima de uma "cochilada" em uma chicane traiçoeira. Mas que essa distração não resulte em acidente é claro. Não torci, por exemplo, pela morte de Schumacher na volta 0 no circuito Inglês a 300 km p/ hora em 1999: Soubemos depois pelos médicos, que o resgataram, que havia marcas de botões do volante em seu capacete, tamanha foi a pancada e que ele saiu com as 2 pernas quebradas. Eu não sou trapaceiro como ele, só torço para que as condições do "pega" melhorem. Sinto que é melhor que chova as vezes, assim pilotos menos equipados podem se dar bem em pistas de baixa velocidade. Analisando o fator técnico dos pilotos, considero atualmente, Alonso e Raikonnen os melhores, eles me lembram os verdadeiros campeões, os "Racers". Mas como se percebe qualidades em um piloto dessa competição nos dias evoluídos dos engenheiros projetistas de hoje em dia? Para mim a performance é uma meta a partir do equipamento disponível. Um modelo padrão herdado pelo que víamos ser extraído de Ayrton Senna. Depois dele, que é um rei para mim, para quem eu iria torcer? Hamilton, de "Benz", carro mais potente e equilibrado que a Ferrari e a Lótus, e mesmo assim estando sempre atrás? Não. Acho também que não sou obrigado a torcer para o Massa, ele me cansa! E eu sou patriota mas nem tanto! (visto que eu não torcia pelo o carisma de Senna e sim pela sua enorme capacidade mental e funcional). Comparando essa questão, é como fazemos ao considerar um jogador de futebol "internacional". Todos não temos um preferido? Sim. Quem está brilhando no campeonato mais disputado do momento? Neymar (o Brazuca), eu não o elegeria meu favorito só por que é brasileiro ou porque me parece um cara legal, para mim e a maioria ele está roubando a cena - e como é bom ver justiça nos gramados do mundo. Eu faço o mesmo na F1, não importa se é um esporte bastante puxado para a ideologia da Europa (e inteiramente "fabricado" nesse continente), só faço isso porque sou um cara que preza pelo que é justo, sou atento a isso. Mas e você, trabalha isso em si próprio? Pois bem, quem é o cara da F1 nos dias de hoje? Talvez seja difícil dizer que alguém prove algo mais que o Vettel. Por que o lema na F1 é quem prova mais não é isso? Negativo, para mim não, os números dele não me impressionam. No último domingo na Coréia do Sul, ele esteve sim acima da média, conduziu bem seu bólido, mostrou serviço e não cometeu erros estúpidos. Mas só por isso os críticos querem comparar sua carreira a de Senna? Não sejamos levianos! Já Raikonnen, só para frisar um pouco de equilíbrio, bateu mais uma vez alguns carros superiores com sua Lótus, mesmo largando em 10º no grid e, se as mudanças de fama drástica acontecerem de uma forma relevante em 2014 teremos seu favoritismo no próximo Chassi da Ferrari. Não se enganem com Alonso, que sempre apavora nas largadas, dessa vez com uma Ferrari abaixo do equilíbrio que se esperava, até iniciou bem, mais não teve espaço na primeira curva da pista e perdeu chance de arrancar nas primeiras posições, mas ao contrário do que o narrador da Sportv mencionou, dizendo que ele cometeu um erro, na verdade ele saiu fora da pista por méritos, pois desviou seu carro de outro mais bem colocado, a primeira curva da pista após a linha de largada era muito próxima, e os pilotos também dependem do rendimento dos carros a sua frente. Adiante, Massa retardou demais a freada - parecendo que precisava de um GPS - como se ele soubesse fazer isso sem passar do ponto na curva, levou um toque na roda esquerda numa fechada ilegal de Rosberg e rodou já no início, ficou um tempinho parado no meio da pista (caindo para último) e se não fosse a área de escape a concorrência tinha se atrasado mais ainda para ultrapassar o "estorvo". 
Quem foi para o autódromo parece que se divertiu sim, é verdade, o desempenho da Lótus, aliás, dos pilotos, foi espetacular, eles não só continuam dando trabalho para a Ferrari, Mercedez e McLaren, como fizeram valer o ingresso. Quando Raikonnen se aproximou de Grosjean e o ultrapassou um pouco antes da chegada de uma curva, como outra que ele já havia aprontado no GP da Áustria ( 1º prova do ano) por fora em uma chicane para cima do Hamilton, percebi que ainda há uma boa dose de valor nesse esporte. 
As emoções não pararam por aí, na metade da prova Rosberg (no momento em 4º) vinha numa crescente, pegou o vácuo de Hamilton, ultrapassou ele mas o bico do seu carro se soltou, arrastando faíscas pelo trajeto. Olhei e desanimei, "foi-se a ameaça de Vettel". Rosberg se obrigou a ir aos boxes, caiu muito e não incomodou mais. É nítido e escancarado que os combates na F1 agora são mais frequentes por posições mais modestas: 3º, 4º, 5º ou 6º lugares. A culpa é da FIA? Da carta branca a toda tecnologia? Quem sabe, eles nunca contribuíram para uma competição melhor entre as equipes mesmo, por conta dessa incompetência é que as artimanhas dos pilotos mais arrojados (ou a existência deles) se tornaram lenda. 
A certa altura o pneu de Perez se espatifou e trouxe pela segunda vez (eu acho) a entrada do carro de serviço. Com isso quem perdeu foi Webber (RBR), outra ameaça de Vettel, se não estivesse largado em 13º. Na volta 41 a relargada, ele foi atingido por Sutil e teve seu carro danificado e envolvido em chamas, ele se mostrou bastante desanimado ao abandonar o Cockpit, parecia ter desistido da vida, nem parecia temer uma lambida daquelas labaredas no corpo. 
Esquecido em seu domínio Vettel já foi abrindo vantagem, Alonso (em um péssimo dia da Ferrari) ultrapassou Hamilton mais levou o troco segundos depois. Em seguida apareceu o gigante do GP numa Sauber resfolegante: Era Hulkenberg. Hamilton comeu poeira, depois, vergonhosamente, pediu sugestões via rádio aos instrutores da sua equipe (Mercedez). Como se o Lauda (ex-piloto, hoje presidente não-executivo da equipe) pudesse fazer muito por ele naquela situação. Ele, por vezes, até recuperava a 4º colocação, mas levava o troco sempre na sequência. Foi assim por vezes, pouco minutos, mas preciosos para a disputa. Hulk deu com insistência uma "bucha", desenvolvendo um melhor traçado. 
Na última volta, de modo trivial e pouco considerado, Vettel passou na bandeira quadriculada, vibrou, mas nem tanto quanto Hulkenberg faria. Depois dos comerciais, no fim daquela madrugada, com um sono lunático, esperei os pilotos subirem ao pódio com a mente muito cansada, acho que confundi a situação. Vi o Raikonnen no pódio (2º) o Vettel com seu humor de criança esperando o próximo... Grosjean? Droga, é mesmo, achei por um instante que Hulk subiria aquele 3º degrau, algo deveras especial pelas circunstâncias.


4 de outubro de 2013

A Verdade de Uma Bala




Um pastor vestido à caráter, aguarda a esposa junto a moto para o culto de domingo. Enquanto ela se arruma, ele, de costume, prepara no baú da moto seus instrumentos para discursar, seu Hobby preferido. Ela não demorou a subir as escadas, veio com sua conhecida disposição, o que sempre o contagiava.
Os dois montam na moto e seguem a breve viagem. No percurso, o habitual barulho no trânsito: Carros equipados por jovens que escutam um promíscuo Funk carioca, frotas de motos que teimam em estourar os motores por onde passam, causando transtorno por toda parte. Em meio ao furdunço, foi possível se discernir com muito empenho da atenção um estampido diferente (pow). O pastor reduziu a velocidade, olhou para os lados, pra esposa, e perguntou apalpando sua perna:
- Tudo bem?
- Sim, porquê? - respondeu curiosa.
- Nada, me ocorreu algo sem muita precisão - exclamou o pastor.
Eles continuaram o percurso que não durava mais que dez minutos e estacionaram o veículo enfrente a uma pequena igreja evangélica a qual frequentavam a anos. Como um dia qualquer, ela desceu e foi na frente enquanto ele tratava de abrir o baú e pegar seu kit. Um toque no botão e o compartimento se abriu automaticamente. Percebeu entre seus objetos que sua bíblia estava com as folhas amassadas. Ao abri-la encontrou um fragmento de bala de revólver. Logo olhou e viu o furo no baú. Sua espinha arrepiou, lembrou como um relâmpago do "estampido diferente" que ouvira no caminho.
Ele analisou o rumo que a bala poderia ter tomado e, constatou que era um dia de livramento. Na linha da bala pôde imaginar, sem que quisesse, que o destino dramático era a espinha de sua esposa. Recolheu o fragmento de bala no bolso do paletó, fechou a bíblia, o baú da moto e seguiu para o interior da igreja com uma ideia fixa na mente: "Com esse livramento, sei que minha fé, agora fortalecida, me prepara ainda mais para exercer essa função." Com o coração irrigado de amor, passou pela porta de entrada da noiva de jesus. Hoje, o discurso ia ferver...

1 de outubro de 2013

Brazucas Não Falam Inglês


Uma vez, em 1988, o vocal da cantora americana Betty Wright bradou: No pain, no gain (“Sem dor, não há ganho”) recentemente - e talvez, coincidentemente - os americanos aficionados em treinos acadêmicos e os halterofilistas adotaram essa expressão durante suas práticas, e posteriormente ela se estendeu para os campos do esporte e afins. No Brasil - penso eu - terra de sexualidade forte, essa sonora seria traduzida de outra forma. O Brasileiro diria: "Sem suor, sem prazer".


30 de setembro de 2013

Mecanismos que Geraram a Recessão





O Professor Canadense de Administração do Insead, Kevin Kaiser, declarou que um dos erros que originaram a crise mundial de 2008 foi a má gestão de políticos chineses, europeus e americanos em tentar fazer suas economias crescer acima do que seria sustentável a longo prazo. Foi apontado também irresponsabilidades do governo por intervir para salvar algumas empresas ineficientes com interesses próprios (que tem seu papel na crise) fornecendo pacotes bilionários como ajuda. Kevin defende o capitalismo e deixa bem claro que o mais correto é impedir que industrias mal geridas sobrevivam, aliando-se aos menos favorecidos: "O capitalismo nunca sofreu falhas tão grandes de má alocação de recursos como as que ocorreram entre 1995 e 2007".
O setor automobilístico americano, considerado por ele obsoleto e há tempos nocauteado por montadoras japonesas como Nissan, Toyota e Honda que fabricam carros superiores em qualidade e com equipes mais valorizadas, deveriam sofrer um processo de destruição entrando em falência para garantir o desenvolvimento. Segundo o mesmo, os operários em questão, desempregados, seriam forçados a migrar para setores de alta tecnologia e produtividade. Teriam,  assim, contribuído na aceleração da descoberta de tecnologias médicas ou de transporte ainda melhores, ajudando muito no bem estar da sociedade.


25 de setembro de 2013

Raio X da Obra: Cão Come Cão



Classifico o Romance de Ed Bunker como uma arte física, verossímil. Quem o ler vai se deleitar num mundo palpável de fortes emoções. Pra quem vive num gueto, os personagens podem parecer com antigos conhecidos, comuns ao tipo de vida aventureiro e de caráter muito bem definido. A história avança em 1995, abordando a trajetória de 3 personagens principais. Troy - o protagonista - um ex-condenado, arquétipo do autor, branco, criminoso. Teve, como os outros dois, passagens por instituições de menores e delegacias, cumprindo pequenas penas, e ao mesmo tempo, apaixonado e compulsivo por livros, graduando-se na cadeia. Faz o estilo autodidata marginal. Seus amigos de infância, Diesel e Mad Dog, igualmente perdidos na filosofia do crime, seguem no mesmo passo, almejando um lugar ao sol.
Num clima colérico, desde o estranho convívio com negros, na rotina de um abrigo para menores na Roosevelt, os três se sentem a vontade para opinar, do modo como aprenderam, sobre as diferenças de postura entre negros e crioulos - Niggers: uma conotação pejorativa para aqueles que aqui, no Brasil, são conhecidos como bandidos sem responsabilidade: os que tiram uma vida pelo simples fato do assaltado em questão não portar dinheiro na carteira. A trama, então, passa a ser contata na vida adulta. Troy ganha sua liberdade após cumprir pena na Prisão Estadual de San Quentin. Ele rapidamente, sem pestanejar, se reinicia na vida do crime. Os dois comparsas, também livres, são novamente convocados para uma parceria fora da lei. Diesel, branco, auto, forte, ex-pugilista de cadeia, a quem Troy tem maior afinidade, é facilmente restituído. O outro, Mad Dog, também branco, criminoso sem escrúpulos, viciado em heroína, com fama de louco, mas a quem Troy deve a sua vida, uma vez protegida no reformatório anos atrás, numa briga entre menores internos, também entra na aliança. Os golpes da quadrilha, no início, ganham sucesso. Mas Mad Dog ameaça a saúde dos negócios por se relacionar mal com Diesel e causar insegurança em todos pelos excessos que comete. Diesel descobre que Mad Dog matou uma moça - a ex-namorada -, e sua pequena filha, após uma visita a Mad Dog, num momento isolado num cômodo da casa, onde achou os corpos conservados no refrigerador. Desde então, depois que Troy é comunicado, a dupla passa a se sentir ainda mais desconfortável. Troy - o cabeça do bando - e Diesel passam a conversar e pensar melhor no futuro de Mad Dog. Diesel não o suporta e  por saber de suas insanidades o teme secretamente. Eles já discutiram uma vez pela insatisfação na partilha de um dinheiro, numa velha "fita", e portanto carregavam também uma ponta de ódio, um contra o outro.
O plano carro chefe da trama é posto em pauta, Bunker narra com propriedade deixando a impressão de um relato empírico. Os três, camuflados numa viatura policial, vestidos à caráter, possuindo o dossiê da vítima, rastreiam o mesmo para assaltá-lo. Trata-se de um traficante bem sucedido, ambientado no assombroso submundo de Los Angeles - West Coast. A investida é proposital, busca a eliminação de qualquer chance de denúncia a polícia. Mas eles não param por aí. Troy visita um amigo numa prisão no México e é encarregado de sequestrar um bebê. Missão aparentemente fácil, mas no desenrolar eis que surge o carma: Mad Dog, na tentativa de salvar Troy, dispara um tiro fatal contra um homem disfarçado dentro da casa do bebê, depois se descobre que esse era o pai da criança, o idealizado como pagante do resgate, que por uma fatalidade, estava no momento do sequestro. Um deslize.
Com isso, na dor de um dilema, Troy sentencia uma decisão difícil à tempos. Com uma automática apontada para a nuca de Mad Dog - que por um momento se distraia -, ele pesou os motivos para matar ou deixa-lo com vida, e disparou na cabeça dele.
Nesse universo, o leitor percebe do que se submete aquele a quem depende do crime, onde a ética é desafiada por opiniões sensatas, naturais sopros de sobrevivência. A lealdade é analisada como produtiva ou destrutiva, desembocando numa realidade amarga. 
 No decorrer, Diesel, precariamente suspeito pelas tatuagens, é perseguido pela polícia, inicia um tiroteio na saída de um mercado e acaba brutalmente assassinado. Troy, juntamente é enquadrado, espancado, preso, foge de um hospital a qual estava algemado sob os cuidados médicos da justiça, e perambula solitário pela liberdade, correndo numa rodovia movimentada, num carro roubado, em desespero por se safar.
Bunker passa nas últimas páginas do seu "romance de assaltos", que a vivência criminal é extremamente perigosa, a vida se resume a duras incertezas e penosas surpresas. Minha pessoa, compadecida pelo carisma de Troy, torcia para um final feliz, mas se chocou com um comentário cruel de um policial, que depois de capturá-lo, bastante ferido, dispara uma promessa a queima roupa ao companheiro, prometendo jogá-lo na câmara de gás. Eu percebi tardiamente que torcia por uma fuga, uma chance fundamental de redenção, mesmo não assumindo nenhum traço de arrependimento em Troy. Fui sorrateiramente inserido no grupo, reflexo da convivência estreita com o talentoso narrador. Como um membro entrosado com a gangue, senti que não cumpri a minha parte, deixando a desejar em algum amparo.

19 de setembro de 2013

O Verbo de Alanis





Ela pode estar onde a prisão o impede de ser feliz, a memória é uma corrente de sucesso frente a um silêncio esgotável. Deixe a voz dela entrar. Ela recupera o ego com massagens e suas mãos imaginárias te trazem a realidade absurda do riso fácil. Acreditem nela quando se dispuser a cantar com um dom aceso em um dia cinzento, conduza ela aos palcos do seu progresso. Um simples sussurro dela é um grito contra a opressão dos bons sentimentos. Deixe-a em condições de criar sua arte de modos filantrópicos de uma nação para todas as outras, pelo o ouvido aos interiores inquietos. Entenda a suas composições como a mãe estende o braço teimosamente em função da redenção de um filho. Permita que ela o conduza para o campo florido das verdadeiras aventuras, constantes, em sonhos reais. Enxergue-a com os olhos virgens do pecador arrependido. Seja como ela um companheiro compreensível das boas ações. Quando ela canta é tempo de gozar como o último dos merecedores da paz, é tempo de reconhecer as dádivas do bem estar municiadas por seu repertório. Encontre um tempo para contemplar todas as cócegas que a existência dela prometeu, desde a infância. Acorde e escute junto ao nascer violento do sol, em toda uma paisagem que a Alanis faz amor enquanto canta, isso soa como uma paquera envolvente, uma arte adolescente e precoce, que só tem ainda mais valor e respeito. Ela é o que seu próprio timbre produz. Torne-se, ao romper as amarras do som, um jovem sábio e implacável como ela. Aceite que ela soa em constante movimento, como um verbo. Deixe que ela o conduza nesse ato de extrema virtude dos corpos, passeando em sua voz.

18 de setembro de 2013

Thriller de 2Pac



Tupac Amaru Shakur, absoluto, um embrião gerado no antro da patrulha negra, um estrago premeditado desde o útero de uma mãe revolucionária. Desde a vida, uma promessa em contagem regressiva, a voz pueril ecoando de um beco inóspito e de absurda realidade, reinando um jovem do gueto sangrento de drogas pelo dinheiro, onde as sirenes cortam os ares, entre dias e noites perseguido pela polícia, discriminado, mas adaptável e educado pelos criminosos mais temidos e procurados, os fugitivos de um cadafalso. Com sua arte, de olhos sensíveis, comandava uma reação diante da premeditada e estável desigualdade. Durante essa batalha, que soava como uma divertida balada, "elas" se excitavam e distribuíam amor, mesmo que somente depois de um gole de paixão, na taça de cristal, desviada, da posse da "playboyzada". Mas nem tudo é suborno, de casaco camuflado, com cicatrizes de guerra, na beira do palco, lá está esse soldado, ele ainda vive, suas palavras valem tiros, parecem cobrar como uma força natural a riqueza rigorosa roubada em ancestral escravidão. Sempre infiltrado, aprendendo técnicas, como a dos italianos, por que talvez vocês aprendam que o preconceito limita o conhecimento. Certo dia, acordou num posto de príncipe e recebeu seu alvará, sangrando em meio a traições de covardes, caminhou de volta pra casa, com um plano de fortuna, e sorrindo com uma premonição de vida após a morte, que não tardara, e que depois dos últimos sucessos, nos aproximara mas uma vez do inferno. O cavalheiro foi enterrado, com honras de chefe de estado e salva de tiros. Na outra vida, uma glória póstuma, lágrimas para os herdeiros de sua consciência, um legado construído em seu túmulo vitorioso, à tempos, brotando no consciente coletivo o valor da estratégia, um espelho reluzindo a vitória da resistência, que voluntariamente despreza sua morte. Tudo por nós aos poucos é decifrado, embalado numa trama, secretamente pacífica, filmada com recuperações de making off, repercutindo em qualquer ambiente que teima por uma discórdia. A missão do maior Rapper do mundo não pode ser confundida com um Thriller hollywoodiano.

O Dom De Sabrina






Horas após o crime, o patrão coça a barba, postado com um semblante de vítima por de detrás da vitrine da Loja Prata Fina, arrodeado de gerentes, vendedores e controladores de acesso. Ele se pergunta e se tortura pela resposta. Como alguém adentrou a sala de jóias? E como as câmeras não captaram a invasão? Como se tivesse visto essa cena, nesse momento, Sabrina movimentou ligeiramente os lábios, e já imaginava a reação patética dos supervisores da empresa que terceiriza os serviços de segurança do estabelecimento, os responsáveis indiretos por sua oportunidade. E o figurino dela? Farda e crachá da Jaguar Group, se apossando da identidade de uma funcionária recolhida que fora escolhida no dia como substituta na loja, e esse foi o seu disfarce. Depois a verdadeira seria encontrada, amarrada, enfeitada com uma mordaça na boca, assustada em um porão e exausta. Sabrina mandaria um torpedo para libertá-la. A última vez que foi vista, se retirava em passos de uma elegância que combinavam com o vestido, um modelo tubinho da Quintess ou talvez toda aquela postura se devia aos sapatos de salto Guangzhou. Tanto faz, ainda tenho mais um detalhe: Ao abandonar honestamente o local, ela ainda piscou ousadamente para os companheiros afastando-se temporariamente de qualquer suspeita. Na bolsa carrega o tape, a identidade corrupta em imagens do seu único dia como uma funcionária de segurança. Provas comprometedoras que se perderiam em suas mãos. Ela só precisou de um tempinho, de manter cérebros desconectados com a realidade, e isso foi conquistado de uma maneira sútil, ou vocês não sabiam que as sereias também conseguem atrair quando se calam? Toda moral tem seus benefícios. Por dentro de sua beleza clássica e indescritível um ego notório, que ela não deixou transparecer, e não pelo âmago farto e correspondido de toda uma sociedade de homens enamorados por aqueles traços fatais, que mal podiam disfarçar o sentimento ao vê-la ou pela oportunidade que esperavam silenciosamente de poder conhece-la mais de perto, não, e sim pelo orgulho do trabalho de furto que cometera. Sabrina, do alto dos seus avassaladores 1, 73 cm de altura e 24 anos de existência, além de tudo, era extremamente eficiente. Sua fisionomia jovem, estendida numa tez morena clara, que com descuido poderiam confundi-la com Jordana Brewster de 15 anos atrás - mesmo que só depois que essa atriz se sujeitasse a exaustivos treinos de musculação e dieta de proteínas, pois a garota aqui tinha um bum-bum enorme - algo em que ela era sempre pega se gabando. Essas qualidades poderiam ser um problema para o sucesso em exercer seu ofício, pois precisava passar despercebida nos "points" que agia. Já o seu quadril ao marchar poderia entregar uma naturalidade paulista e para o desequilíbrio desse perfil era exigido dela própria a si mesma uma adaptação do astral quente e agitado de origem brasileira. Ela só precisava de uma dosagem incomum de recato e isso lhe rendia costumeiros trabalhos mentais que ela, por experiência diplomada, tirava de letra.
Quando virou a esquina da exuberante Assunção - Capital do Paraguai - de 2025 - cidade que lembra Manhattan no final do século 20 -, uma porta acabara de ser aberta, a 20 metros um ronco hostil de uma máquina conquistadora insinua que o casal aprecia passeios radicais. Um carro incomum, blindado contra maus olhados, no volante, fiel como um cão, extremamente elegante, não pelo peso da etiqueta na lapela do terno de um preto fosco ou pelo lenço vermelho no bolso do paletó, mas pelo carisma treinado para uma vida errante de estelionatário. O Garotão de olhar verde piscina, empresta sua retina a ela espelhando os movimentos confidentes que ela conquistou na academia da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), ela entra, senta e manuseia a maçaneta interna do carro com trejeitos confiantes de "espiã- bandida", termo que substituiu ao de analista de informações automaticamente depois que ela desertou da inteligência do governo a 8 anos - cargo honrosamente disputado a duras penas em um concurso público em São Paulo. A "copiada" que ele dardejou a satisfez, e como ela esperava, uma intensidade rara e meio moleque, são olhos para assegurar uma vida. Ela estava protegida. Desde que se conheceram, no camarim de um show sertanejo que Sabrina resolveu invadir por um autógrafo e Conrad precisou intervir - ainda atuava como guarda-costas de artistas. O trabalho não foi fácil, os dois trocaram olhares surpresos e antes de um deles esboçar um sorriso ou dizer algo tipo "Eu te conheço de algum lugar", ele a agarrou e tascou-lhe um beijo extravagante e correspondido, nada que ela não faria primeiro. Desde então estabeleceram um affair. Hoje, muitas giradas de globo depois e os dois se arriscam pelo mundo como se alimentassem de adrenalina. Ele sempre assumiu uma postura leal e verdadeira para qualquer evento ou problema e ela sempre recompensou de uma forma mais sútil, mas na mesma moeda. Quando decidiram pela criminalidade eram apenas dois jovens extremamente corajosos. Conrad está sempre por trás dos furtos, é encarregado de vigiar e detectar qualquer tipo de intervenção, fora treinado por ela e funciona como um contato fundamental para uma eventual fuga. Ele já sentia um peso enorme com isso, preferia segura-la nos braços como naquele fim de tarde ensolarado, brincar de carrega-la desde o início da avenida ao interior do veículo, até acomodar no estofamento a segurança daquele amor que eles teimavam em rotular como aventura. Ele aperta no painel da máquina o botão de ignição do GT500 Shelby Mustang, o carro segue o destino de alívio após uma operação, 18 horas depois, como combinado, a cidade de Mar Del Plata teria uma visita, comemorariam no Cassino tradicional, olhos de transeuntes disputariam um ângulo melhor para focar o ibope momentâneo que eles fingiriam não perceber. Quando ela fecha a porta, olha fugaz e suavemente para ele, escolhe o idioma para dizer um oi e experimenta um meio sorriso familiar, agora de olhos na estrada:
- Por que não me mandou um sinal? - Ele pergunta incisivo, sua voz soa a de um locutor.
- Desculpe, fantasias acontecem numa sala recheada de Jóias - risos - "Relax", ainda estou dentro do horário estipulado, você sabe que em circunstâncias como essa eu jamais falharia - ela rebate e encerra, agora com um olhar confiante.
Conrad sabia com quem estava falando, perguntou só para seguir o protocolo, achava o profissionalismo como a conservação de uma engrenagem na máquina dos negócios bem sucedidos. 
Com o pé na tábua, algumas centenas de metros e eles se permitiram a uma conversa eufórica, foi o fim de todo o disfarce. Em pauta, escorregando feito uma cachoeira de prazeres nos lábios de Sabrina, detalhes da ação nua e crua, revelações expostas do acesso ao circuito interno de monitoramento, o modo como interrompeu o andamento das imagens internas, e o recolhimento das gargantilhas na sala de glamour, Sabrina despiu os manequins e tratou de evaporar de toda a cena, deixando como legado para os donos um pomposo ponto de interrogação. 
A 10 Km adiante, no gramado do acostamento de uma estrada de acesso ao centro da cidade, o uniforme, crachás e a fita - com registros dela - foram desovados, queimados com uma cota de combustível, desaparecendo do convívio deles, aquilo valia como um cúmplice de vida própria. Eles se dirigiram na fé ao Casino Central, e não temiam ser seguidos por nenhum fantasma, ou alguma testemunha recém nascida. Acreditavam muito em crimes perfeitos, sem pegadas ou odores próprios que os comprometessem. 
- Puts vai chover, está fechando o tempo - afirmou Conrad.
- Tinha que ser, passa o dia com um calor dos infernos, agora chuva, que raiva - ela respondeu atenta.
- É culpa dos Icebergs, efeito estufa, daqui uns anos vai estar tudo muito pior.
- Um dia a natureza se cansa, não é mesmo?
- Só não se cansa de te contemplar - disse ele, abrindo um sorriso.
Ela riu baixinho e só conseguiu dizer:
- ai ai ai, boa de novo, mas não exagere - ela sempre dizia isso.
- "Ta" eu aceito a sua modéstia.
- E eu aceito seu elogio exagerado. 
- Eu aceito suas rebatidas rápidas.
- Eu aceito seus argumentos.
- Eu aceito seu espirito competitivo.
Sabrina riu e disse:
- Ai ai ai… eu aceito sua inteligência exagerada.
- E eu aceito seu bom humor. 
- Aceito sua mania de não admitir perder.
Conrad riu falando:
- Eu aceito seu 6° sentido
- Eu aceito que eu perdi - Os dois gargalharam, e Conrad continuou com a palhaçada: 
- Uma mulher durona, eu gosto assim. 
- Isso mesmo, homem só precisa saber quatro letras.
Finalmente ele não sabia, se tratava de uma piada velha:
- Quais?
- O B D C - entre risos, ela encerrou o quiz dos bem humorados.
Eles curtiram juntos uns dias pelas praias Argentinas, beberam Belini e passearam bem vestidos nas noites mais badaladas de Buenos Aires. Dias depois, Sabrina decide voltar para sua terra natal, ainda temia ser capturada pela ABIN, mas preferia montar os cacos de sua vida, estourados por uma antiga escolha aventureira de vida errante no exterior. Conrad precisava de alguns dias mais para cumprir um trato com um membro de uma gangue dele e ficou de ir depois. Decidiram realmente mudar. Quando ela chegou no destino em Diadema se tornou novamente Gabriela, dez vezes mais mulher, e já foi matando a saudade antes mesmo de reencontrar os familiares, de longe, avistando do táxi a velha represa Billings.
Os dias se passaram e o trato dos dois não vingou, Conrad não aparecera, não atendia nenhum celular. 
Ela vive hoje nas ruas de sua infância, com sua família, nos antigos passeios adolescentes e festas em que aprendeu a dançar. Nada de fingir ser uma santa, nada de interpretar, nada de trabalho 24 horas por dia, ela se despiu dos retoques para ser ela mesma, mas faz questão quanto as lembranças, na verdade era necessário mante-las, especialmente as conversas engraçadas que eles tinham, a ausência dele tem sido para ela como uma mudança de ar, um gosto rarefeito de vida. Assim é a saudade dos primeiros dias. Ela se prepara mentalmente demonstrando a mesma capacidade adaptável que fez dela uma das melhores agentes, rica e independente. Gabriela anda dolorida, mas ainda possui um dom forte: Mais uma vez movimenta os lábios como prova de assistir uma cena presente, pois ainda tem um coração forte para acreditar num reencontro definitivo, longe da perseguição dos federais, em um mundo em que os dois intitulariam de "Outra Vida".

Raio X Da Obra - Dr. Che - Personagens Que Marcaram Época




Um jovem estudante de medicina, de 23 anos, interessado em reintegrar-se junto aos menos favorecidos moradores de Lima - Peru -, encontrava-se três semanas no leprosário de San Pedro, às margens do Rio Amazonas, onde as severas monjas-enfermeiras lhe apresentaram ás regras de asseio no contato com os doentes. Esse jovem, Ernesto (Che), acompanhado por seu amigo Alberto Granado (Bioquímico) ignoraram a rotina, entendendo que Médicos, enfermeiros e o resto da administração, viviam de um lado do Amazonas, e os pacientes, do outro.
- El río aleja a los enfermos de los sanos!
Os dois voluntários dispensaram as luvas para cumprimentar cada paciente, num piscar de olhos acrescentaram braços para construções de cabanas, organizaram partidas de futebol, e dividiram alimentos no intervalo entre cada abraço: Sonhos realizados.
Em seguida planejaram uma viagem de encontro ao mundo. Alberto arrumou uma moto, norton 500, fabricada em 1939, a Mambembe, carinhosamente chamada de "La Poderosa 2", homenagem a sua velha bicicleta de infância "La Poderosa 1". Primeiro destino: Miramar, balneário Argentino, não distante de Buenos Aires, onde a noiva de Che estava passando férias. Era a primeira etapa da viagem, destino final; Peninsula de Guajira, na Venezuela, quase 10 mil quilômetros adiante. Che levava na bagagem não só o kit habitual para subsistência, mas um filhote de cachorro, apelidado de "come back" (vamos voltar), expressando seu desejo. Ernesto e Alberto pretendiam se aventurar sobre duas rodas por toda a América Latina: Argentina, Chile, Peru, Colômbia, e por fim, Venezuela, passando por lugares fenomenais como os Sete Lagos, o deserto de Atacama, o lago Titicaca, as Cidades de Cuzco, Machu Pichu, Lima e Amazônia. O lema era: "pouca bagagem, pernas fortes e estômago de faquir".
Em Abril de 1952 eles mergulharam no vale sagrado dos Incas e, depois Cuzco - "Coração da América", segundo Pablo Neruda e, em seguida Machu Pichu; uma Cidade descoberta pelo explorador Hiram Bigham em 1911 e construída, no século xv, ao longo de um precipício de 400 metros, que mistura o espírito Incaico com a cultura colonial, uma brava cidadela em defesa das raízes do continente, diferente de Buenos Aires e Lima, curvadas ao modelo de crescimento Europeu ou norte-Americano.
Em 24 de Maio de 1952, os dois aventureiros embarcaram em Pucalpa, com destino ao leprosário de San Pablo, na selva Peruana. De San Pablo, numa balsa apelidada "Mambo Tango" em direção a cidade de Letícia. Pra finalizar a viagem a Bogotá, se empregaram como diretores técnicos do Sporting Letícia, um pequeno time de futebol local, que chegou a final do regional, transformando-os em heróis do Villarejo, levantando grana, pagaram para voar no hidro-militar até a Capital Colombiana, cruzaram a fronteira até a Venezuela a pé, atravessaram os Andes Venezuelanos num velho ônibus, e, ao chegar a Carácas despediram-se: Alberto empregou-se no centro local de pesquisas sobre lepra e Ernesto tomou um avião até Miami e, em seguida, Buenos Aires, onde só chegou em agosto de 1952.
Foram se reencontrar em Cuba, em 24 de Julho de 1960. Alberto chegou a Havana com sua família e decidiu abandonar seu trabalho numa faculdade na Venezuela para ficar de vez no País em revolução, ocupando uma posição no ministério da Saúde.
Alberto, em Cuba, dispensou qualquer arma. Suas investidas nas mudanças do mundo consistiam em discussões teóricas. Segundo Jhon Lee Anderson, numa passagem do livro Che Guevara, uma biografia:"Se olha-se pela luneta de um fuzil para um soldado, Alberto veria um homem com mulher e filhos - enquanto Che, puxava o gatilho porque, ao matá-lo, estava ajudando a diminuir a repressão."
Alberto tinha o poder de criticar Ernesto em sua frente sem que nada acontecesse. Ele constantemente apontava excesso de rigidez em sua personalidade ao desprezar os covardes, mentirosos e puxa sacos. 
Em outubro de 1961, Alberto se engajou em instalar uma escola de pesquisas Biomédicas na universidade da cidade de Santiago, e deixou Havana, com sua mulher e filhos. Um ano depois, junto de Che, recrutou soldados para participar de uma guerrilha. Eles se viram pela última vez num jantar com suas esposas. A essa altura, Che já havia pedido a Fidel Castro a demissão do cargo no ministério da indústria para seguir como revolucionário em outros lugares. Era Dezembro de 1964, e navegar era preciso...

(Contém passagens do livro: Personagens que marcaram época: Che Guevara, por Marleine Cohen)

Raio X da Obra: Assassinato no Expresso do Oriente


Agatha Christie produz aqui uma trama genial. Em um luxuoso trem destinado a percorrer 3 dias pela Europa (Instambul - Trieste - Calais), um passageiro inesperado embarca, M. Poirot, um detetive renomado, junto a mais 13 passageiros de etnias variadas e profissionais da companhia. Na calada, um deles é assassinado com 12 apunhaladas, entre 0 hs e 2 hs da manhã e, Poirot toma a frente das investigações, apoiado pelos responsáveis da companhia do trem. Depois de um exaustivo interrogatório o detetive formula 2 soluções. A primeira, a possibilidade de um assassino de fora: "O vilão entrou pela plataforma, numa parada, disfarçado de condutor de trem, munido de chave mestra, invadindo a cabina da vítima só que entrando pela do vizinho, saindo e deixando tudo trancado, por onde entrou.", isso ele disse em uma sala, reunido com todos os passageiros. A segunda versão - a por mim mais aceita - aponta todos os 12 passageiros como culpados. Além de Poirot desconfiar dos álibis apresentados, todos por pessoas não prováveis, e depois de descobrir a verdadeira identidade da vítima, por meio de fragmentos de uma carta encontrada queimada, na intenção de afastar pistas. O alvo fora Casseti, sequestrador Americano, acusado de matar Daisy armstrong - curiosamente absolvido do caso. Pouco a pouco, os passageiros foram desvendados entre as células cinzentas do detetive. É provável que todos se dividam entre membros da criadagem e parentes próximos de Daisy. No desfecho, o leitor descobre que um Júri camuflado, e liderado pela atriz Linda Arden (Mãe de Daisy), o condena, executando na escuridão da matina, isso se for devidamente lembrado e considerado a relevância das 12 facadas em diferentes proporções. A autora desafia a saúde do raciocínio, demonstrando um dom divino.

Dicionário Pessoal

Ciúme é...                                    fraqueza que destrói.

Culpa é...                                     penitência.


Prazer é...                                    a razão perseguida.


Paixão...                                       vai do auge do sentimento bom ao sacrifício.


Moda é...                                      ponto de vista.


Beleza é...                                    um padrão aos olhos do homem.


Classe é...                                    curar com um beijo.


Sem noção é...                             a ignorância bêbada.


Medo é...                                      prevenção.


O Divã é para...                            sarar por dentro.


Inquietar- se é...                           lutar contra a impunidade.


Salvar-se é...                                entender-se.


Lição de Moral




Um líder entre três gaiatos usuários perfila uma trilha em busca de uma sombra. O próximo, lambe avidamente a seda e prepara com eficiência um cigarro de maconha. Felipedro, o mané do trio, não esperava mais seu pai o havia seguido. Não era um pai qualquer, tinha uma fama negativa: meses atrás, chegou mais cedo em casa e pegou a filha no quintal de casa com uma companhia inesperada. A reação foi intempestiva: arrastou a filha na chinelada pelo corredor adentro, enquanto o garanhão pulava o muro pra escapar. A adolescente chorou muito enquanto refletia suas atitudes.
Esse mesmo pai surgira agora entre os arbustos, assustando os três desavisados. Pela linguagem corporal, estava determinado. Se aproximou do filho, que tomou um tremendo susto. 
 - Não pai, eu posso explicar! - Disse Felipedro quase sem ar.
Seu pai encostou ainda mais e se sentou em um banco de praça na frente deles, estava sereno e concentrado.
- Deixa eu experimentar esse cigarro.
- Não pai, se tá louco? - Falou Felipedro, sem graça.
- Você não está fumando? Agora tudo que usar eu também farei.
Foi um golpe de mestre. O pai, num dia inspirado, dominou a emoção do filho com sua atitude fantasticamente inesperada. Felipedro foi sugado de cena, se tornou refém de um propósito, e por sorte, o certo. Sem discutir devolveu a droga aos companheiros e se retirou com o pai. Ele nunca mais voltou a falar com aqueles rapazes, passou a se sentir deslocado, nunca mais usou nada, não contraiu mais nenhum vício. Determinou-se atrás de um emprego e conseguiu vaga numa grande montadora em São Bernardo.
 De volta pra casa, o pai de Felipedro, depois de conquistar sua emoção, investiu na razão conversando entusiasmado de volta pela trilha, agora em busca da luz. Sabe-se que sua filha nunca se endireitou na vida, é promíscua, troca sempre de namorado. O passado, agora passa a alfinetar este pai.

O Passageiro Da Agonia




Em uma segunda-feira, no ônibus, destinava-me para o trabalho, embarca um passageiro estranho, 'naipe' de bêbado, desajeitado, com roupas de cigano, óculos fora de moda, de chapéu e cheio de bolsas de estilo árabe. Ele encostou no aparelho de leitura de cartão de transporte, com um ar de dúvida, portando mais ou menos uns 7 cartões VT diferentes na mão e iniciou sua tentativa, logo desesperando-se: Passava um azul, um verde, um vermelho, um laranja... mas todos - ao som de BIP - eram recusados com veemência pelo dispositivo. Sob os olhos do cobrador, nitidamente curioso, ele insistiu, abriu a carteira e sacou vários outros cartões, passou todos, que foram também recusados. Em minha volta era perceptível a reação dos outros passageiros, uns prontos pra rir, se entreolhando e acompanhando apreensíveis, e nada do cara desistir, seguiu-se o som irritante de negativa do tal aparelho. Do ângulo que eu estava, não podia perceber o que acusava na telinha do mecanismo, e a reação do rapaz era de decepção. Num momento o ônibus balançou forte, ele segurou o chapéu e os óculos feios para não cair, suas bolsas balangaram provocando um solavanco violento nele, que insistia, nos aproximados 5 minutos de viagem eu assisti a cena teimosa, ao trocar e passar aqueles cartões, parecia que cada um pesava 1 tonelada, seu nervosismo o deixava cada vez mais travado. Eu dei sinal para descer, antes disso, fiquei com a impressão de que ele, ainda persistindo e inconformado pela a falta de créditos, somava cada centavo restante de cada cartão para quitar os R$2,80 da passagem. Se cada cartão tivesse R$ 0,01 centavo por cada leitura, ele teria quitado, pois foram vários os cartões e várias as tentativas. O ônibus parou e eu desembarquei, olhei para a cara do cobrador: "Que mágica está fazendo, cara?", ele dizia, de olhos fixos, mentalmente para o passageiro com uma linguagem de semblante. O ônibus saiu fechando as portas, olhei pela última vez para aquele figura, tímido como uma criança, que me parecia um personagem de filme paquistanês, ainda pude escutar como um trauma no pensamento o BIP irritante, nesse instante, o ônibus se distanciou na estrada, enfim soltei uma gargalhada que fora presa por educação e assustei algumas pessoas na rua.

O Reencontro



Numa avenida movimentada, um cara de moto passou em alta velocidade em frente a empresa que eu presto serviço, a uns 50 metros, eis que outro, um ciclista, tenta atravessar sem olhar. Ele posicionou a bike e já ia de encontro ao motoqueiro, por sorte, o mesmo estava atento e travou as rodas em cima, a uns dois metros... só que o tempo fechou. De onde eu acompanhava a cena, percebi quê os dois se irritaram, o motoqueiro, dono da razão, foi pra cima do ciclista, que fez o mesmo. Frente a frente, o motoqueiro encostou no ciclista e levantou a viseira - que era fume e escondia seu rosto -, enquanto o ciclista já armava um golpe... surpresa!! Os dois se cumprimentaram com veemência - é claro que eram amigos!! -, teve até tapa nas costas, seguiu-se com uma conversa em tom alto e seguida de risadas. Contando assim, podemos ter uma breve noção da cena, foi hilária. Eu ri Horrores!!