18 de setembro de 2013

O Passageiro Da Agonia




Em uma segunda-feira, no ônibus, destinava-me para o trabalho, embarca um passageiro estranho, 'naipe' de bêbado, desajeitado, com roupas de cigano, óculos fora de moda, de chapéu e cheio de bolsas de estilo árabe. Ele encostou no aparelho de leitura de cartão de transporte, com um ar de dúvida, portando mais ou menos uns 7 cartões VT diferentes na mão e iniciou sua tentativa, logo desesperando-se: Passava um azul, um verde, um vermelho, um laranja... mas todos - ao som de BIP - eram recusados com veemência pelo dispositivo. Sob os olhos do cobrador, nitidamente curioso, ele insistiu, abriu a carteira e sacou vários outros cartões, passou todos, que foram também recusados. Em minha volta era perceptível a reação dos outros passageiros, uns prontos pra rir, se entreolhando e acompanhando apreensíveis, e nada do cara desistir, seguiu-se o som irritante de negativa do tal aparelho. Do ângulo que eu estava, não podia perceber o que acusava na telinha do mecanismo, e a reação do rapaz era de decepção. Num momento o ônibus balançou forte, ele segurou o chapéu e os óculos feios para não cair, suas bolsas balangaram provocando um solavanco violento nele, que insistia, nos aproximados 5 minutos de viagem eu assisti a cena teimosa, ao trocar e passar aqueles cartões, parecia que cada um pesava 1 tonelada, seu nervosismo o deixava cada vez mais travado. Eu dei sinal para descer, antes disso, fiquei com a impressão de que ele, ainda persistindo e inconformado pela a falta de créditos, somava cada centavo restante de cada cartão para quitar os R$2,80 da passagem. Se cada cartão tivesse R$ 0,01 centavo por cada leitura, ele teria quitado, pois foram vários os cartões e várias as tentativas. O ônibus parou e eu desembarquei, olhei para a cara do cobrador: "Que mágica está fazendo, cara?", ele dizia, de olhos fixos, mentalmente para o passageiro com uma linguagem de semblante. O ônibus saiu fechando as portas, olhei pela última vez para aquele figura, tímido como uma criança, que me parecia um personagem de filme paquistanês, ainda pude escutar como um trauma no pensamento o BIP irritante, nesse instante, o ônibus se distanciou na estrada, enfim soltei uma gargalhada que fora presa por educação e assustei algumas pessoas na rua.

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